Trump prestes a “atirar” em impostos brasileiros; e agora?

Se tem uma coisa que Donald Trump adora é uma boa guerra comercial. O ex-presidente dos Estados Unidos, que tenta voltar à Casa Branca, já deixou claro que tarifas de importação serão uma peça-chave de sua estratégia econômica. Agora, com as taxas sobre México, Canadá e China no centro do debate, a pergunta que fica é: e o Brasil? Vamos sair ilesos ou já podemos preparar o colete à prova de tarifas?

O tarifaço da vez: quem são os alvos?

A proposta atual de Trump prevê uma tarifa de 25% sobre produtos mexicanos e canadenses, além de 10% para produtos chineses. Isso lembra a guerra comercial de seu primeiro mandato, quando o governo republicano impôs sanções contra a China, impactando toda a cadeia global. Mas já houve um recuo estratégico: após conversas com a presidente mexicana Claudia Sheinbaum e o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, as tarifas contra México e Canadá foram adiadas por 30 dias.

Mas isso significa que a tempestade passou? Nem de longe. Trump ainda insiste que essa política é crucial para fortalecer a indústria americana. O problema? Especialistas alertam que os efeitos negativos podem ser muito maiores do que os benefícios.

E o Brasil? Pode sair ganhando ou vai levar chumbo?

O Brasil já experimentou os dois lados da moeda em guerras comerciais passadas. Quando Trump entrou em conflito com a China em 2018, os chineses buscaram outros fornecedores, e quem lucrou foi o agronegócio brasileiro, especialmente nas exportações de soja, milho e carne.

Agora, a história pode se repetir. Se o México e o Canadá enfrentarem tarifas pesadas, empresas desses países podem buscar fornecedores alternativos – e o Brasil pode aparecer como opção. O economista André Perfeito vê aí uma grande oportunidade: “O Brasil pode comer pelas beiradas as tarifas de Trump e fornecer para Canadá, México e China mais mercadorias. Como se diz: crise é oportunidade, e essa pode ser a oportunidade da década”.

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Por outro lado, há quem veja o copo meio vazio. Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, alerta que o impacto positivo depende do tempo que essas medidas vão durar. “Programação de exportação demanda pelo menos 60 dias”, lembra ele. Ou seja, se a política mudar rápido – e Trump é imprevisível – os benefícios podem não se concretizar.

Mas e a inflação, hein?

Se por um lado a política tarifária pode favorecer exportadores brasileiros, por outro pode aquecer um problema global: a inflação. Quando Trump impõe tarifas, os custos para os importadores americanos aumentam. E, claro, esses custos são repassados ao consumidor.

O efeito cascata já preocupa economistas. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, prevê uma pressão inflacionária nos EUA. Isso pode levar o Federal Reserve (Fed) a manter juros altos por mais tempo – e juros altos nos EUA significam dólar valorizado.

Para o Brasil, um dólar mais caro pode ter dois efeitos: ajuda exportadores, mas encarece importações e pressiona os preços internos. Em resumo: se Trump insistir no protecionismo, podemos sentir essa “dor” no bolso também.

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Trump está de olho na arrecadação

Se engana quem pensa que Trump está jogando essa bomba apenas para agradar eleitores nacionalistas. A verdade é que ele também precisa de dinheiro. O déficit fiscal dos EUA está na casa dos US$ 1,8 trilhão, e a projeção é que continue alto nos próximos anos.

As tarifas, além de proteger a indústria americana, serviriam para reforçar o caixa do governo. Mas essa tática é arriscada. “Se o estrago não for muito grande no curto prazo, pode até trazer algum alívio fiscal. Mas tarifas desse tipo têm tudo para dar errado”, alerta André Perfeito.

Vale o preço? Trump acha que sim

Em sua rede social, a Truth Social, Trump já avisou que os americanos podem sentir os efeitos no curto prazo, mas acredita que valerá a pena. “Haverá alguma dor? Sim, talvez (e talvez não!)”, escreveu ele em letras maiúsculas.

A pergunta que fica é: essa dor será só para os americanos ou o Brasil também vai entrar no jogo? Por enquanto, estamos na arquibancada, torcendo para que o tiro de Trump não acerte nosso bolso.

Rodrigo Peronti

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